Ainda sobre a manifestação de sexta-feira em Lisboa, os sinais que muitos portugueses dão ao governo e ao seu prepotente líder são cada vez mais óbvios (embora o eco dado em alguma comunicação social parece que foi uma manifestação com 2 ou 3 mil pessoas). O descontentamento é grande e não o é só pela existência da crise (que em Portugal tem já 7-8 anos), embora a conjuntura internacional acarrete consequências gravosas para diversos sectores de actividade nacionais.
Vários desses sectores têm dificuldades pelo abaixamento do consumismo (talvez para padrões mais condizentes com a sustentabilidade geral), outros pela descida nas exportações e outros ainda pelo aumento concorrencial do mercado exterior no mercado nacional (para o qual não se prepararam devidamente nos últimos 20 anos, embora avisados).
Mas a manifestação demonstra acima de todo uma forte desaprovação das políticas governativas nos 4 anos da legislatura. A situação foi correndo, passou 1 ano, depois outro, começam as primeiras vozes de alerta para o rumo que o país estava a seguir (aí o défice), ao terceiro ano acordam os sectores mais atacados (professores, militares/polícias, enfermeiros) e no passar do quarto ano todo se conjuga para um definhar do governo até as eleições legislativas (mesmo com a ténue oposição do principal partido de direita…).
Porque uma análise da situação de vida de muitos portugueses (exceptuando os que caíram no desemprego ou estão em vias disso), em relação à 1 ano atrás, vimos que as condições ao fim do mês são melhores; vejamos os combustíveis estão 20-25% mais baratos, a prestação da casa desceu abruptamente, os salários estão mais altos (pela primeira vez, em alguns anos, a função pública ganhou poder de compra), a inflação estagnou e o governo governa mal tal e qual o fazia à 1 ano atrás (aqui está na mesma).
Portanto esta crise é muitas vezes usada como arma de arremesso ou como desculpa para o que não se foi fazendo nos anos anteriores.
E para muitos portugueses a corda na garganta não é de agora, a poupança nunca foi ponderada (era chapa ganha, chapa gasta), o desfalcar da conta bancária era tapado com a adesão a mais um cartão de crédito, que por sua vez atingido o limite de crédito era coberto por outro com taxas de juro mais penalizantes (e a maioria da vezes, com taxas de juro elevadíssimas de 20 a 30%, sem a real noção por parte “patos bravos”). Mas à boa maneira portuguesa, ninguém se queixava para não dar parte fraca (principalmente ao vizinho do lado); só quando se ouviram e percepcionaram as primeiras dificuldades na economia mundial toda a gente pode finalmente começam a deitar cá para fora as lágrimas retidas.
Não é tempo de lágrimas, é tempo de exigências, de reduzir gastos supérfluos, de viver consoante as reais posses e ponderar qual o rumo que queremos para o nosso país. Quando muitos se queixam podem agora aproveitar um ano excepcional, com 3 eleições, e ir votar (sim, votar para variar!) consciente e responsavelmente, dando um pouco de si à vilipendiada democracia portuguesa, e acabando com os queixumes nos próximos tempos (provavelmente em 2010 ou 2011 haverá novamente eleições legislativas, para mal do nosso país que não sabe viver numa verdadeira democracia em que um governo minoritário possa governar com base em acordos e negociações).